Em março começou o ‘Bazar das Línguas’, um espaço semanal de aprendizagem e troca de línguas. Desencadeia-se um jogo entre alfabetos, modos de pronunciar as palavras, descoberta dos sotaques. O Paulo Vaz, professor de português, propôs orientar algumas sessões. Há pessoas a chegar do Oriente, pessoas que já cá vivem e outras que estão a partir. O grupo nuclear vai-se habituando a estas práticas regulares. O Paulo convida ao estudo de uma palavra. De uma só palavra, como “cabelo”, ouviram-se de imediato traduções em Hindi, Nepalês, Urdu, Punjabi e Holandês, versões sonoras e escritas para essa mesma palavra, que todos querem aprender. Um bazar de soluções começa a surgir nos quadros negros e faz aparecer um mapa que dá a ver alfabetos diferentes. Uma só palavra, um mar de traduções. Juntou-se um grupo regular no Mercado Municipal de Odemira. Palavras são pretextos para danças, jogos, momentos performativos em que frases como “Isto é para ti” ou “Como te chamas?” revelam múltiplas camadas e dimensões de comunicação. Neste bazar as línguas são moedas de troca.
O ‘Bazar das Línguas’ é um espaço criativo para trabalhar a dificuldade de comunicação, tradução e entendimento que muitos migrantes encontram ao chegar a Portugal. Não falam português e por vezes também não falam inglês: autênticos abismos que colocam muitas vezes estas populações migrantes num enorme isolamento. Este espaço de criação não é um curso formal de aprendizagem da língua, mas de inclusão e curiosidade. No Bazar das Línguas todos somos professores e alunos em simultâneo. O grande propósito deste bazar é a construção de um clima solto e alegre, onde se aprendem aspectos essenciais das línguas e culturas que temos dentro da sala naquele dia.