25 de Setembro de 2021 Os primeiros ensaios para o espectáculo BOWING
Aos tapetes na sala da Junta de Freguesia de São Teotónio, chegam as caras conhecidas para o que não sabem ainda. Há equipas de futebol, pares de badminton. Globos terrestres a passar de mão em mão. ‘We are playing with the world, and this is what humanity is doing’. Os rapazes experimentam a dança do futebol mas as suas pernas estão ainda demasiado habituadas à competição. As penas esvoaçam desorganizadas. Há a preocupação do tempo. Dizem os adolescentes: ‘There is not enough time to rehearse’. Abhijot filma tudo. As raparigas dançam em roda, the ring dance, movimentos entre o oriente e ocidente, uma aliança feminina. Arshpreet e Bárbara criam tensões com os dois globos, deixam atuar a força da gravidade. Queremos algo mais que o jogo, queremos algo através do jogo: a queda de muros e fronteiras.
Uma discussão à mesa entre Mandeep, do Punjab, Sathyia, do Sul da Índia, outra mulher do Bangladesh e nós, de Portugal. As três mulheres eram pensadoras, críticas, disponíveis para o diálogo. Iam chegando outras e sentavam-se à volta. Nós, os portugueses, fazíamos erros culturais, misturando referências de lugares muito diferentes. As mulheres corrigiam-nos: ‘eu não conheço essa língua, para essa questão ela é que sabe! A minha cultura não tem nada a ver.’ Há distâncias culturais imensas entre as pessoas com quem trabalhamos, e entre elas também outras distâncias existem. É nesse jogo que está o movimento rico, o gesto profundo, a estrada do meio que permite o encontro. Sathyia, com a filha de quatro anos, sentava-se e discutia com Mandeep sobre as diferenças entre o Punjab e o Sul da Índia, e nessas diferenças encontravam cumplicidade. Sathyia ficou com Mandeep no Curry Kingdom a explicar receitas, ingredientes, histórias culinárias do seu lugar de origem e da sua avó.
Tinham todos muita vontade de dançar, mas pouco ritmo e coordenação ocidentais. Tentavam até ao fim e cada pequeno passo era uma conquista que auto-aplaudiam. A energia dispersava e reagrupava-se. O humor funcionava muito bem. A Inês ensinou parte da sequência do trabalho do coreógrafo Hoffesh Shechter e depois a dança do círculo. A Madalena foi mudando a dinâmica para uma exploração livre e consciente do movimento. Farouk era expressivo e poderia ser um dos que iriam falar em Bengali, à varanda. No final o porta-voz de todos os migrantes foi o Rajendra. Os homens do Bangladesh quiseram experimentar uma dança do seu país. Trouxemos uma dança tradicional com canas de bambú para fazer em conjunto. Houve a oportunidade de, através do conforto e alegria que o traçado desta dança permitiu, criar um autêntico laboratório de criação coreográfica com a participação de todos. Muitas versões criativas surgiram.