“O meu nome é Taranpreet, sou da região do Punjab, na Índia, e tenho 18 anos. A minha vida é muito boa. Vivo com a minha mãe, pai, irmão e irmã. Estamos numa casa partilhada onde vivem cerca de 10 pessoas, mas nós somos a única família.”
Taranpreet quer ser dentista. Costumava usar aparelho e adorava os sons e a atmosfera do consultório. Queria poder usar aqueles equipamentos. Gosta de música e dança. Aprendeu Bangra na escola, na Índia. Observava o tio a dançar e tinha vontade de aprender.
"Viemos por causa do meu pai, ele vive e trabalha aqui há cerca de 5 ou 6 anos. Vim primeiro com o meu irmão em 2020, durante a época da COVID-19. Não pude ir para a escola por causa das restrições, então fiquei em casa durante um ano inteiro. A minha irmã e a minha mãe ficaram na Índia e só chegaram em Novembro do ano passado, 2022."
Durante este período, sem a mãe e a irmã em Portugal, a Taranpreet contava-nos que se sentia triste e com muitas saudades. Tinha que tratar das tarefas de casa e cozinhava para o pai e para o irmão quando chegava da escola.
"Em Portugal, a coisa mais difícil é não conseguir falar a língua. Não consigo comunicar com a maioria das pessoas. Não entendo o que dizem e eles não me entendem."
Conhecemos a Taranpreet no início de 2022, na Escola Secundária de Odemira. Não falava português e sentia-se isolada do grupo. Tinha assistido ao primeiro espectáculo do BOWING e queria muito fazer parte do projecto. Diz que teve uma grande sorte em estar naquela turma.
"Tive o BOWING pela primeira vez na escola, e lembro-me de ter chorado naquela aula porque estavam a tentar falar apenas em português. Eu não conseguia entender nada, todos eram muito simpáticos, mas eu sentia-me incapaz de falar com qualquer pessoa."
Num dia de celebrações na Escola Damião de Odemira, a Taranpreet dançou, com amigas, uma coreografia de um videoclip do Punjab. Foi um momento que a Matilde observou.
"Gosto de ver vídeos, copiar as danças e ensiná-las aos meus amigos."
Aí nasceu a ideia de levar aquela dança para o espectáculo BOWING BACK. A Taranpreet dançou-a sozinha e era depois acompanhada pelo grupo de jovens. Durante os ensaios foi ela que ensinou e ajudou a liderar o momento, onde a sala do Mercado Municipal de Odemira transbordava de energia.
"Não consigo ouvir mais aquela música... ensaiámos tantas vezes!"
A Taranpreet também liderou outra dança de bangra em que todos participaram.
"O meu momento favorito foi ver todos a dançar Bhangra no Mercado de Odemira. Todos a aprender e praticar. Foi algo novo para os portugueses, e vi todos a gostar do que faziam."
Apesar de não se ver como uma líder, a Taranpreet assumiu um papel de força e responsabilidade perante o grupo ao ensinar as danças que apresentámos. Era muito segura, exigente e precisa nos seus movimentos.
"Os meus professores dizem que sou uma pessoa muito diferente quando danço. Concordo, porque quando danço não penso em mais nada. No outro dia estava doente e fui ao médico em Odemira com a minha mãe. O médico pediu-me para tirar a máscara e, quando o fiz, ela reconheceu-me e disse: 'Ah! Eu conheço-te! Participaste no BOWING e estavas a dançar!' A minha mãe estava tão orgulhosa."
Fotografias de: João Mariano - 1000 Olhos