Percorrer as ruas e ir a todos os lugares, falar com todas as pessoas, aproveitar todas as oportunidades que se abrem diante dos nossos olhos. Dedicámos muito tempo a distribuir panfletos e posters. Passámos por todas as lojas de Odemira e São Teotónio e deixámos materiais de divulgação. Mais tarde, várias pessoas nos disseram que ficaram a conhecer o projecto por esses posters e panfletos, que muitas vezes actuavam de formas silenciosas e desconhecidas. Shoaib, por exemplo, juntou-se ao grupo porque dentro de um guarda-roupa do seu quarto, que partilhava com outras pessoas, encontrou um pequeno flyer. Nos momentos da criação dos grupos e elencos para o espectáculo, falávamos com todas as pessoas que encontrávamos na rua, por vezes com fossos de comunicação entre nós, e convidávamo-las para os ensaios. Uma das perguntas que o público mais fazia no final de ambos os espectáculos era: "Como conseguiram reunir tanta gente, formar um grupo tão grande?" Foi nas ruas. ‘Varrer as Ruas’ é não deixar nada por fazer: nenhum lugar por visitar, nenhuma pessoa com quem falar. É utópico e sistemático, repetitivo. É aproveitar as oportunidades mesmo que pareçam pouco prováveis. Vão acontecer vários milagres. ‘Varrer as Ruas’ é sobre um caminho longo, que requer energia e persistência, sem atalhos. Não haveria outra forma de fazer este projecto florir e realmente criar uma comunidade sem experimentar todos os pontos, lugares e pessoas que conseguíssemos. Ao longo do percurso surgem inúmeros outros focos, pontos de interesse, curiosidades, temas a desenvolver e a aprofundar. É uma tarefa que acontece em camadas. Por cada 100 pessoas com quem falamos talvez 5 se juntem ao grupo. Mas isso já é bastante, e durante esse trabalho abrem-se inúmeras portas para outros mundos e culturas, para observar dinâmicas humanas e sociais, para ficar a conhecer um lugar e quem o habita.