Francisco Thiago CavalcantiVoltar

Francisco Thiago Cavalcanti

"Minha experiência com o Bowing Back Desde que fiz a seleção para participar do trabalho, fiquei encantado com os olhos enormes e brilhantes da Madalena Victorino. Tive a sensação que era um trabalho do bem, verdadeiro e amoroso. Fiquei muito feliz quando fui selecionado. Eu precisava de um pouco de ar, depois de, como migrante, ter trabalhado como burro de carga em Lisboa, em serviços subalternizados. Precisava trabalhar com aquilo que me dava pulsão de vida e prazer: a dança, a performance, o teatro! Estar em Odeceixe e Odemira me fez concentrar, organizar minhas ideias e pensamentos e me abrir para o desconhecido. Eu sou uma pessoa muito dedicada ao trabalho, a pesquisa artística, tenho muito amor por isso, e também, tenho muito amor pelo ser humano. Sou uma pessoa com esperança, com sede de justiça e equidade. Fazendo parte do Bowing, renovei o meu desejo de estar próximo de pessoas de verdade, com seus problemas, carências, emoções, afetos. Perto daquela comunidade, foi como se eu tivesse perto da minha família lá do Ceará. Gente muito simples, humilde, batalhadora e ao mesmo tempo alegre, colorida! As coisas que fui descobrindo e tomando conhecimento nesse processo de imersão e criação, fizeram com que me tornasse uma pessoa, um artista, um pouco melhor. Sem querer romantizar, acho muito forte quem viaja, quem desloca, quem busca uma vida melhor. Essas pessoas carregam consigo muita força; e foi isso que encontrei durante a convivência deste projeto. Aqueles olhinhos todos também brilhavam, como os de Madalena, como os meus. Durante a criação, tive que deparar com a condição cruel e desanimadora dos migrantes que tentam acolhimento em Portugal. Tive muita empatia, porque é exatamente o que eu estava vivendo e ainda vivo: a tentativa de construir um lar, distante de nossas raízes. O mais lindo pra mim foi aprender a cantar e a dançar músicas e danças de outras culturas. E com aquela comunidade, rir, sorrir. Viver na práxis a diferença. Juntos nós criamos uma comunidade outra, permeado de carinho, poesia, respeito e esperança. Esperançamos juntos. Foi lindo. Quero mais. O mundo aumentou um pouquinho mais de tamanho, para mim, dessa linda experiência. Foi intenso e cansativo, mas esse suor do trabalho, quando é gratificante e nos eleva como seres humanos, é gana de viver. Todos queremos viver e talvez, seja isso o que mais nos aproxima. Ninguém nasceu pra ser semente. "

Fotografias de: João Mariano - 1000 Olhos

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