Shoaib tem 24 anos, é do Paquistão e juntou-se às sessões do BOWING no início de 2022, no Cineteatro Camacho Costa, em Odemira.
"Encontrei um panfleto do BOWING dentro de um armário, no meu quarto. Fiquei curioso e decidi ir."
Saiu do Paquistão para a Hungria com um visto de estudante, para um curso de Relações Internacionais.
"A situação no Paquistão estava muito difícil. Não conseguia pagar pelos meus estudos então decidi vir para Portugal. O governo de Portugal facilita a obtenção de um visto."
Quando conhecemos o Shoaib, trabalhava nas estufas de agricultura intensiva.
"O meu pai sempre quis que eu trabalhasse num escritório, tivesse um bom emprego, mas morreu quando eu ainda era criança e a nossa situação complicou-se. Era apenas a minha mãe a tomar conta de nós. Somos quatro irmãos."
Quando chegou a Portugal, Shoaib não conhecia ninguém. Ao longo dos meses não falhava nenhuma sessão e cada vez nos aproximamos mais. Nos nossos encontros Shoaib cantava muito, dançava, ria e iluminava-se com entusiasmo. Descobrimos o seu talento para o canto.
"Quando entrei no Cineteatro em Odemira vi um grupo de pessoas asiáticas e duas belas raparigas a ensinar movimentos e palavras em português. Fiquei muito feliz com o que via. Quando se é migrante, se estás a trabalhar a semana inteira e andas muito cansado, não há muito tempo para a felicidade. Por isso decidi regressar à aula seguinte. Senti-me tão bem outra vez e percebi que ali podia aprender muita coisa gratuitamente . Estou no BOWING há um ano e três meses."
Pela altura do Verão levámos o Shoaib a uma entrevista de emprego num bar em Vila Nova de Milfontes, onde trabalhou como assistente de cozinha durante vários meses, tendo depois passado para a cozinha da Escola Profissional de Odemira, onde ainda trabalha. No espectáculo BOWING BACK, Shoaib teve vários solos musicais, que trauteava na rua e nos ensaios, e todos se sentiam contagiados pelas suas melodias. Nem sempre o processo foi fácil.
"Sinto que deviam fazer menos coisas ao mesmo tempo. Era confuso, demasiadas coisas."
Tudo acontecia ao mesmo tempo e Shoaib ajudava em várias frentes, fazendo também parte da equipa de produção, ajudando na limpeza, montagem e escrita de textos.
"Tive uma sensação forte durante os dois meses de preparação do espectáculo. Especialmente o que senti na última apresentação, no terceiro dia. Tantas pessoas a ver! A nossa despedida... sinto que todo o ano que passei convosco culminou naquele momento."
Ao longo do ano Shoaib aprendeu muitas letras de músicas portuguesas conhecidas, e quando nos esquecemos das palavras, ainda hoje é o Shoaib que nos corrige.
"A minha forma de falar e lidar com as pessoas mudou com o BOWING. Foi o meu primeiro contacto real com portugueses e com a cultura portuguesa."
Mais que um participante, é um amigo próximo com quem partilhamos muitos momentos. Uma vez, numa festa com parte do elenco de artistas do BOWING BACK, em Lisboa, fomos surpreendidos quando ouvimos a campainha da casa e entrou o Shoaib pela sala. Tinha apanhado um autocarro de Odemira, vindo a Lisboa pela primeira vez, ao nosso encontro.
Fotografias de: Vitorino Coragem