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As Possibilidades da Mesa

Para um aluno do ensino básico ou secundário, uma mesa é um objecto cheio de significados. Por um lado, é um esconderijo em que os corpos se encaixam e podem passar despercebidos, com um universo de segredos entre a cadeira, o colo e as partes interiores da secretária. É também um escritório, um espaço pessoal que pertence ao aluno, onde dispõe os seus materiais como se decorasse e organizasse um pequeno quarto. Para nós, utilizando a relação dos alunos com as suas secretárias, a mesa foi um palco, um espaço performativo que viajava entre a intimidade e a exposição. Nas sessões das escolas reorganizávamos as mesas criando ilhas, filas, formas pouco comuns, motivando a plasticidade do espaço como uma forma de retirar formalidade à sala de aula. Os alunos subiam às cadeiras e às mesas para interpretar danças ou discursos e, numa sessão, o jovem actor Manuel Ruiz pousou de diversas formas acrobáticas em cima das mesas para que os alunos o desenhassem. Numa sessão com o 9º ano, inspirada pelo projecto coreográfico 52 Portraits, do coreógrafo Jonathan Burrows, compositor Matteo Fargion e do videasta Hugo Glendinning, a Inês coreografou e ensinou aos alunos uma dança em que se mantinham sentados à secretária, essa barricada contra a vulnerabilidade, e mesmo os mais tímidos participaram. A particularidade da mesa é encerrar vários universos simultaneamente, pela sua carga simbólica e prática: pode ser um palco, um lugar seguro, um espaço íntimo, um objecto com vida e personalidade, próprio da sala de aula, que se transfigura. Tentámos utilizá-la para que fosse tudo isso ao mesmo tempo.