"Sou o Meet, tenho 18 anos e sou da Índia. Falo cinco línguas: Gujarati (a minha língua materna), Hindi, Inglês, Alemão e Português. Vivi na Alemanha durante quatro anos até vir para Portugal, onde estou há três anos. Estudo na escola de Odemira, ainda no 9º ano, por causa de todos os problemas com viagens e equivalências em diferentes escolas. Vivo com a minha irmã e com o meu pai, a minha mãe está na Alemanha. Queremos voltar para lá assim que tivermos os nossos passaportes portugueses."
O Meet fez parte do primeiro ano do projeto. Conhecemo-lo na Escola Básica Damião, em Odemira, na sua turma do 7ºano. Era um aluno com uma visão alargada do mundo, apaixonado por meditação e pela sua cultura, com uma grande vontade de a partilhar. Tinha talento para comunicar e captar a atenção de quem o ouvia.
"As pessoas em Portugal costumam ser simpáticas, mas os adolescentes podem ser difíceis ao receber pessoas novas. Sinto que a maior parte deles não se interessa por aprender sobre outros países. Têm a mente fechada quando se trata de partilhar ou aprender sobre outras culturas, diferentes crenças religiosas e formas de vida."
Durante as sessões na escola, Meet partilhava histórias de textos sagrados Indianos: Bagavad-Gitá e Mahabharata, repetindo a frase “This time will pass” como um lema para aceitarmos tudo aquilo que acontece na vida, por melhor ou pior que possa ser.
"O maior problema nas escolas é a falta de estratégias e planeamento para integrar a população migrante. Não sabem receber ou guiar as pessoas que chegam. Tens de aprender tudo sozinho. Lembro-me de não almoçar durante algum tempo porque ninguém me explicou que tinha de tirar uma senha para a cantina. Os professores ajudam se lhes pedirmos, mas devia haver um plano organizado para receber todas estas pessoas. Quando estás num país novo não conheces nada. Há tantos migrantes nesta zona que os estabelecimentos têm de estar preparados.”
Quando se juntou aos ensaios do BOWING trazia consigo alegria, força e maturidade. No espectáculo o Meet dançou, cantou, deu aulas de hindi e as suas palavras arrancavam a viagem das três noites em São Teotónio, guiando uma meditação conjunta.
"O BOWING foi uma experiência muito boa que me deu muita confiança. Tive a oportunidade de conhecer pessoas de diferentes países, fazer amigos portugueses bem como de outros países asiáticos. Nunca gostei muito de dançar mas também o fiz, foi a parte mais complicada. Gostei muito de ensinar aos outros o que sabia, como a prática da meditação. Durante esse tempo eu meditava diariamente, o que me ajudava muito na vida. Vocês pediram-me para ensinar todos a meditar durante um ensaio e depois isso transformou-se no início do espectáculo. Foi muito bom ensinar todos os participantes mas também o público. Lembro-me desses dias, de 400 a 500 pessoas a meditar em conjunto e não havia um som, toda a gente estava concentrada, a ouvir as minhas palavras, curiosos por aprender. Nunca me irei esquecer disso. Outra memória forte que tenho é das últimas noites, quando nos despedimos. Foi um dos momentos mais nostálgicos e não o consigo esquecer. Fiz bons amigos, um laço forte com muitas pessoas."
Fotografias de: Pavel Tavares