Na dança da Meditação do espectáculo BOWING havia uma série de mudras, gestos indianos que se fazem com as mãos e com o olhar, cada um com o seu sentido, que interpretávamos ao redor da fonte de São Teotónio. Maitri, uma jovem indiana, corrigia as posturas das mãos e os movimentos de todos, para que o significado do gesto fosse correctamente transmitido. Em caso de dúvida, olhávamos para Maitri. O seu irmão Meet ficou com a partei inicial do espectáculo, conduzindo o público e o elenco numa meditação. A responsabilidade de dar início ao espectáculo cabia a Meet e, apesar de ficar bastante nervoso, sentiu-o como um dos momentos mais felizes do processo. Fomos constatando que a responsabilidade é proporcional à felicidade: quanto mais tarefas entregávamos aos participantes para que as liderassem, mais proveito e alegria tiravam da experiência. Taranpreet ensinou a sua coreografia a todo o elenco, Manpreet ensinou os passos da dança Bhangra, os jovens que subiram às mesas de jardim na ‘Floresta da Incompreensão’ foram professores das suas línguas, ensinando o público a pronunciar e a escrever as palavras. Durante os dois primeiros anos os encontros foram maioritariamente orientados pela equipa artística, havendo momentos em que entregávamos a liderança aos participantes. Neste terceiro ano, no BOWING DOC, demos o passo seguinte e inaugurámos aulas de ‘Raga’ com o Inderjeet como professor, tempo durante o qual é Inderjeet que lidera e onde a presença da equipa deixa de ser necessária, estabelecendo assim uma prática de sustentabilidade. Enquanto que os projectos com apenas um líder são dependentes da presença e energia de uma pessoa, a ‘Passagem da Liderança’ acorda o potencial de comunicação e confiança dos participantes, fazendo o trabalho crescer e ramificar-se com criatividade e uma força que levou a muitos momentos inesperados.