Sabemos que em muitos cantos do Oriente a vida se faz no chão. As refeições, o descanso, o templo, o trabalho, a escola. Mais do que um mobiliário, os tapetes representam o espaço onde o corpo se sente bem. O chão da sala da Junta de Freguesia de São Teotónio era de mosaico branco, frio ao toque, e o espaço desabrigado. Revestimos o pavimento com tapetes de lã todos diferentes, que mudaram de imediato o clima da sala. Um tapete serve não só para aquecer um ambiente e oferecer a ilusão da casa, como também para delimitar zonas. As zonas de descanso, de reflexão, de trabalho de escrita, de ensaio. Serviram como espaço de criação de solos que foram depois passados para pequenos terraços na vila e que tinham sensivelmente a medida dos tapetes. Os tapetes são dotados de um poder cénico muito forte, quase mágico, sobretudo quando colocados em locais inesperados como na rua, numa mesa de jardim, debaixo de uma árvore. Tapetes podem ser chamuças se forem dobrados como tal, ou uma empresa de produção agrícola se forem colocados em linha. Um tapete enrolado pode ser um banco baixo e comprido para uma população se sentar. Se forem colocados tapetes em torno de um espaço vazio, esse espaço torna-se um palco. Se colocarmos cadeiras ao ar livre com um tapete ao centro, temos uma sala de estar. Pequenos estrados de madeira velha, se forem forrados por um tapete, poderão tornar-se em altares divinos. O tapete dignifica, parece que com a sua presença podemos chegar a um espaço mais real nos dois sentidos, de realidade e realeza. O importante é que se transfiguram, são muitas coisas ao mesmo tempo. Quando não temos tapete temos papel, ou cartão, ou caruma, ou folhas de plátano, ou terra. O importante é procurar o baixo, descobrir o encontro entre o corpo, o conforto e o chão, seja de que material for.
Fotografias de: João Mariano - 1000 Olhos, Pavel Tavares