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Mergulhar no Outro

Quando se oferece a quem está à nossa frente atenção, curiosidade e tempo, gera-se uma relação rica e o início de uma intimidade crescente. Trabalhámos individualmente com muitas pessoas, demonstrando disponibilidade e interesse por cada uma delas e oferecendo tempo para ouvir histórias, partilhar refeições, conhecer as casas onde moram. O encontro não pode ser forçado, não deve haver um sentimento de dever na relação que se inicia. É necessário tempo, horas, meses. Ao longo de 2021 e 2022 geraram-se muitas amizades com migrantes que se sentiam isolados, sem espaço para conversarem e serem ouvidos. Para além de ajudarmos na sua integração no território e de encontrarem no projecto um espaço de acolhimento e segurança, este ‘Mergulho no outro’ abriu-nos portas para várias culturas, realidades sociais, para dentro de casas e vidas muitas vezes inacessíveis aos portugueses. Através de conversas e vivências cresceram ideias para desenvolver artisticamente. Criou-se uma rede de contactos, fortes amizades e a possibilidade de vermos cada pessoa nas suas diferentes potencialidades e talentos. As interações individuais permitiram-nos explorar uma dimensão que as sessões de grupo e os grandes ensaios não possibilitavam. O ‘Mergulho no outro’ deu-se dentro dos nossos carros, durante as boleias que demos entre os ensaios e as casas, as escolas, os locais de trabalho. Nos carros eram partilhadas histórias, músicas, risos, línguas e culturas. Aconteceu também dentro de cozinhas, de quartos, em passeios pelo campo ou durante refeições. Cada pessoa é um ser rico e complexo em saberes, ideias, formas de viver desconhecidas. Há um certo momento em que se começam a aproximar do projecto muitos migrantes de vários pontos da região. Compreendemos que nos querem pedir auxílio com a aprendizagem da língua, com os serviços públicos, com questões de saúde. Ficámos conhecidas entre a comunidade migrante por essa atenção. O ‘Mergulho no outro’ é, afinal, o cuidado individual que se dá a cada uma das pessoas que encontramos, com quem trabalhamos e vivemos.