Cada pessoa é um universo onde se alojam histórias, talentos por descobrir, desenterrar. Todos temos práticas e conhecimentos no corpo, no pensamento, que invariavelmente enriquecem aquilo que fazemos, por vezes de forma indirecta e misteriosa. Vamos à procura dos tesouros escondidos de cada pessoa, tentamos descobrir aquilo que cada um sabe fazer bem. Essa é a matéria-prima da criação. Vamos conhecendo as pessoas, os grupos, e chegam à superfície as mais variadas actividades: há quem saiba pintar com henna, cozinhar chamuças, liderar meditações, jogar futebol. Convidamos os participantes a fazer aquilo que sabem e que lhes dá prazer, transformando e transportando essa atividade para o plano artístico. Pintar henna enquanto se conta uma história, descrever as especiarias usadas nos cozinhados e construir uma paisagem com elas, convidar o público a meditar num grande círculo, criar uma sequência de dança a partir de movimentos do futebol. É um jogo entre o conforto e o desconforto: pedimos às pessoas que nos ensinem aquilo que sabem fazer bem, mas desafiamo-las a redescobrir essa prática, transformando-a artisticamente. Há um entusiasmo que nasce em quem sente o seu conhecimento valorizado, aquilo que aprendeu ao longo da vida e que agora é posto em evidência de uma forma outra. Por vezes, quase nem se transformam as práticas: Taranpreet dançou a sua coreografia, os três jovens rappers cantaram a sua música, duas crianças jogaram badminton como costumam fazer na escola. O que se transforma é o contexto: Taranpreet dançou a sua coreografia num parque de estacionamento iluminado com a música transfigurada entre o freejazz e a música pop punjabi, o badminton foi jogado por dois rapazes vestidos de Kurta Pajama, os rappers tiveram o apoio da banda Chão Maior. Quando vemos alguém a fazer aquilo que sabe fazer muito bem, esse corpo ilumina-se, ficando virtuoso. Isto acontece em atividades como o ritual de colocar um turbante na cabeça.