Uma refeição partilhada é uma porta de entrada para a intimidade, universo de sabores e conversas que se abre entre duas pessoas. Provar a comida de outra cultura é rendermo-nos a ela, é literalmente abrirmos o nosso interior ao que é desconhecido. O papel da comida no gerar de empatia faz dela um elemento essencial. A comida esteve presente em ambos os espectáculos, onde o público era convidado a provar chamuças, momos, pratos do Sul e do Norte da Índia, convites como pretextos para que essas culturas se embrenhassem pelas entranhas. Para os portugueses que habitam a vila de São Teotónio, sem nunca cruzarem olhares com os migrantes que partilham o mesmo lugar, foi um enorme passo experimentarem pratos tradicionais das culturas que ali se encontram. Nesse aspecto, a comida teve também uma função de democratização e acessibilidade, oferecendo à população local a oportunidade de provar, experimentar, arriscar. Para além disso, proporciona conforto. Os espectáculos eram longos e as noites frias. O público encontrava, em parques de estacionamento convertidos em banquetes, alimentos e pratos servidos como sinais de hospitalidade. Comer em conjunto trata-se sempre de um ritual. No caso do BOWING a comida foi uma porta para o estrangeiro, onde novos sabores e culturas explicaram a sua identidade sem palavras, da forma mais íntima possível: dentro das bocas.