Assim como na grande maioria das criações e projectos artísticos, também nós nos apoiamos em várias referências. Nas primeiras reuniões, ainda na fase de planeamento que antecedeu os laboratórios, lançámos as primeiras ideias e partilhámos o trabalho de artistas, filósofos, políticos, pessoas de vários campos do saber que pudessem alimentar a nossa prática. Pesquisámos também por autores e artistas que pertenciam às culturas presentes no projecto. Deu-se o mesmo processo antes dos espectáculos, onde discutimos poemas, teorias e discursos que poderiam inspirar a criação. Essas referências revelaram-se essenciais a todos os níveis: estiveram na origem de exercícios para os laboratórios, informaram o nosso discurso para com os alunos nas escolas, deram lugar a momentos dos espectáculos e estabeleceram eixos de princípios pelos quais nos regemos. Assim, os nomes de Crystal Pyte e Philip-Lorca DiCorcia viajaram pelas turmas de Odemira, os filmes do realizador Amit Dutta foram projectados sobre um vestido branco numa floresta, a "hospitalidade radical" do filósofo Richard Kearney foi um dos fios condutores do primeiro espectáculo BOWING. Mesmo que as referências não estejam espelhadas directamente no trabalho, podem viver nos seus interstícios. Sempre que possível, tentámos estabelecer a ligação entre as nossas referências e os participantes do projecto. Há tantas formas de explicar uma ideia quanto há pessoas no planeta, e nenhuma teoria é demasiado complicada que não possa ser compreendida por um aluno do quarto ano ou por um trabalhador migrante numa estufa agrícola, que tantas vezes é coberto de preconceitos sobre o seu entendimento do mundo. Assim, mostrámos Pina Bausch a homens do Punjab e a pintura Mughal aos alunos portugueses de Odemira. Levávamos sempre livros para dentro das estufas e partilhávamos referências no WhatsApp. Nunca estamos sozinhos, a riqueza do trabalho é maior e mais generosa quando nos apoiamos no trabalho de outros, quando esses outros nos acompanham como outros os terão acompanhado. No entanto, é ainda maior essa riqueza quando se estabelecem pontes, por vezes improváveis, entre os participantes e as inspirações do trabalho, quando as referências são abertas e expostas a todos.