As melodias que se ouviram nos automóveis enquanto a equipa dava boleia aos participantes, que partilhavam canções das suas culturas, foi fundadora de atmosferas que desenvolvemos nos laboratórios e espectáculos. Quase todas as sessões eram acompanhadas de propostas ocidentais de música pop, urbana, clássica, criando atmosferas de repouso, reflexão e dança. Soaram também canções paquistanesas, muita música nepalesa e indiana com trechos de Bollywood, reunindo um espólio informal para o interior dos espectáculos. Os músicos começaram a recompor, arranjar e ensaiar. No primeiro ano as canções ficaram também na mão de alguns participantes, como uma mulher do Bangladesh, Bipasha, que interpretou uma canção pop do seu país à janela de uma casa de São Teotónio, e outro homem com conhecimento da música tradicional indiana, Manpreet, que cantou acompanhado pela cítara da nossa banda. Houve uma música que o elenco interpretou de forma alegre e viva, e a dada altura algumas pessoas indianas explicaram que se tratava de uma canção de natureza fúnebre. Os coros estiveram mais presentes no segundo ano com a orientação da artista de voz Margarida Mestre. Os ambientes musicais dos laboratório levaram a canções de tradição erudita indiana, à música pop asiática e a todo um campo sonoro que atravessou o espectáculo: no primeiro ano com música composta pelo artista André Duarte, e o free jazz da banda Chão Maior no segundo. Canções que vinham de múltiplos países da Ásia foram alvo de estudo e aprendizagem por parte dos músicos e do grupo de participantes. Graças a esta troca e permuta, criámos dois espectáculos fortemente musicais. Podem ouvir-se aqui algumas das músicas do primeiro espectáculo.
Fotografias de: João Mariano - 1000 Olhos