Inderjeet é um músico e professor Indiano. Descobriu o seu talento e amor pela música na casa dos avós, onde cresceu.
"Quando eu tinha três meses, o meu avô tomava conta de mim. Ele era um grande músico. Cantava, tocava cítara e tablas. Havia sempre música em casa e eu gostava de ouvir.
O avô ensinava numa das seis salas da sua casa, chamavam-lhe a sala de música. Acordava às quatro da manhã para dar as aulas, antes dos alunos irem para o trabalho.
"O meu avô tinha muitos alunos. Quando fiquei mais velho perguntei-lhe se também podia aprender. Ele disse 'Sim! Claro!". Primeiro, sentáva-me a ouvir e passo a passo comecei a tocar tablas e aprendi a cantar o Raga clássico."
Inderjeet gostava de praticar à noite, sozinho. O avô não se importava, dizia-lhe que conseguia adormecer bem mesmo com a música alta. Aos 15 anos, Inderjeet começou a acompanhar outros músicos em ensaios para ganhar algum dinheiro e ajudar os avós em casa.
"Nunca vou esquecer quanto o meu avô me ajudou. Tomou conta de mim, da minha avó, da casa e das aulas de música. Não queria que ele o ajudasse a cozinhar, dizia-me: 'Não. Vai praticar mais! Ouvir-te faz- me bem, relaxa-me."
A Matilde conheceu o Inderjeet no topo de uma falésia, na Zambujeira do Mar. Ia filmar o Rajendra a tocar flauta e encontraram um homem sentado num banco de pedra, a olhar o mar. Pediu-lhe o favor de segurar a trela da Flor, a sua cadela, enquanto filmava, e Inderjeet ficou de pé a ouvir o Rajendra. No final perguntou se eram músicos. Rajendra disse que sim, a Matilde não, mas explicou o projecto. Inderjeet estava à procura de trabalho, tinha acabado de chegar a Portugal, dias antes.
"Antes de vir para Portugal estive em Singapura, Malásia, China, Estados Unidos, Coreia. Gosto de viajar e de ensinar a minha música noutros países, conhecer pessoas novas."
Foi assim que entrou nos primeiros ensaios do espectáculo BOWING BACK. Chegava cedo, com as tablas que pedia emprestadas ao templo Sikh de Odemira. Acompanhava as danças com música e tocava para todos ouvirem. Quando chegou a banda Chão Maior, para se juntar ao processo de criação, Inderjeet integrou-se nela com as tablas, no meio de uma guitarra, bateria, voz e trompetes, melodias para ele desconhecidas até então. A música do espectáculo encontrou uma atmosfera ambígua e misteriosa que atravessava várias latitudes. Inderjeet acompanhou os ensaios com o elenco nuclear, entre o Brejão e Odemira, chegando sempre mais cedo e cheio de vontade de se sentar no chão e observar, tocar, partilhar connosco o seu o universo. A cada semana que passava, aprendia uma nova frase em português. Diz que durante toda a vida está a aprender, e embora seja professor também se sente aluno. Durante muitos anos trocava vídeos, gravações e saberes com o avô.
"Ele enviava-me coisas que conhecia. Eu enviava-lhe coisas que eu conhecia."
No espectáculo, Inderjeet teve uma sala apenas para ele, dentro do centro de estudantes abandonado, o Novo SEF. Estava sentado no chão de tijoleira, com o público à volta, e tocava as tablas como se fossem a batida do coração do edifício. O ritmo era a pulsação que dava vida ao prédio por onde havia espalhados vários solos de dança e música, sendo também o ritmo da duração de uma vida, do nascimento até à morte. Inderjeet continua a viver em Odemira, numa relação próxima com o projecto BOWING DOC, a dar aulas de Raga no Espaço Hands-On. Começou a ensinar música aos 23 anos, utilizando o mesmo método do avô, que agora também põe em prática connosco nas aulas de Raga.
“Primeiro os básicos, as escalas. Depois do primeiro passo estar claro, vamos para o seguinte. Eu nunca ensino algo mais difícil se o básico não está claro. Quando ensino os meus alunos penso em mim próprio na fase deles. Eles querem aprender rápido. Eu era igual.”
Neste momento Inderjeet está também em processo de formação de uma banda, um quarteto com músicos portugueses e asiáticos: Crossing Land. Continua na busca de estabilidade enquanto músico, em Portugal.
"A música é muito profunda. Nunca é perfeita! Nunca se sabe tudo."
Fotografias de: Vitorino Coragem