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 Saris podem ser Bandeiras

A reutilização de objectos e a exploração das suas múltiplas possibilidades enriquece-os com camadas de histórias e vivências. Um objecto que é usado para algo mais do que o propósito com que foi concebido é um objecto feliz. Para nós, a utilização variada dos objectos faz também parte da criação de uma comunidade. As pessoas unem-se em torno dos novos significados e utilizações dadas às coisas. Antigas gavetas transformam-se em bandejas para servir chamuças, papéis para secar as mãos transformam-se em formulários burocráticos vazios, tapetes transformam-se em altares. No início do primeiro espectáculo, o público chegava ao largo principal de São Teotónio para encontrar, pendurados em postes de madeira, saris de todas as cores a esvoaçar ao vento, bandeiras deste novo Alentejo. Neste mesmo espectáculo outros saris serviram de toalhas de mesa, que exibiam especiarias orientais enquanto a Sathiya e a Mandeep nos falavam de receitas das suas avós Indianas. Mais tarde, no Summer Bowing de 2022, os mesmos saris foram utilizados como o tecto do abrigo que construímos na praia e no espectáculo BOWING BACK eram a cobertura das tendas onde se serviam momos e tchai. A tática é esta: reutilizar os objectos para lá do seu propósito, e com isso receber o que os materiais revelam dentro de si. Oferece-se outra vida às coisas. É um acto de generosidade que os objectos também têm com quem os utiliza, servindo tantos propósitos quanto permite a imaginação. Mantendo o olhar aberto, a visão e atenção periférica acordada para múltiplas possibilidades, começamos a reparar nos materiais, a escutar as coisas, a ter amor para com os objectos que se encontram e eles próprios oferecem as pistas e soluções criativas para como deverão ser utilizados.