Homi K. Bhabha, um teórico e estudioso Indo-Inglês, desenvolveu o conceito do ‘Terceiro Espaço’ para descrever identidades e culturas híbridas, que se formam a partir do entrelaçar de vários elementos de culturas diferentes. Bhabha descreve-o como um espaço que está entre espaços, nos interstícios de culturas que colidem e que dão origem a algo novo, uma zona por explorar. Essa zona não pertence a uma cultura colonizadora nem a uma cultura colonizada. De acordo com Bhabha, é no ‘Terceiro Espaço’ que está um ponto de partida para estratégias pós-coloniais, em que se produzem novos símbolos e significados. Tentámos criar e habitar este ‘Terceiro Espaço’, gerando encontros entre diferentes culturas que não se sobrepunham mas que dialogavam, unindo elementos de cada uma para criar danças, textos, músicas, etc, que em si formavam uma nova micro-cultura nascida desse encontro. Unindo movimentos contemporâneos a mudras indianos, por exemplo, na dança da Meditação no primeiro espectáculo, provocou uma identificação por parte dos participantes (asiáticos e europeus) que reconheciam elementos das suas culturas e interpretavam uma nova dança que não pertencia a um só lugar. Começámos por conhecer músicas, danças, histórias das culturas envolvidas no projecto, escolhendo elementos de cada uma e misturando-os como ingredientes para novas músicas, novas danças, novas histórias. Cuidado: por vezes deparámo-nos com situações sensíveis e com o risco de ofender participantes, quando não conhecíamos bem o significado dos elementos culturais que utilizávamos. No espectáculo BOWING BACK, homens Sikh colocaram turbantes dentro de uma igreja católica. No parque de estacionamento, participantes do Punjab dançaram bhangra ao som da banda Chão Maior, com música experimental e free jazz acompanhado pelas tablas do Inderjeet. Em cima de um poço, no primeiro espectáculo, a Inês interpretou uma dança que criou a partir da junção de movimentos de dança contemporânea e danças da Índia e do Nepal. O que nasceu deste projecto foi, na verdade, a cultura BOWING, muito própria e ao mesmo tempo com identidade fluida, em constante mudança. Para quem assiste e reconhece elementos da sua cultura, há um estranhamento e ao mesmo tempo uma familiaridade: um belo paradoxo para habitar.